Blog da Cogni

Blog Cogni Academy

Quando Brincar Vira Prisão Digital

October 13, 20256 min read

Nos últimos anos, as telas digitais se tornaram companheiras inseparáveis de crianças e adolescentes. Tablets, celulares, videogames e plataformas de streaming estão presentes em quase todos os lares — e, em muitos casos, cumprem um papel importante: entreter, ensinar e conectar.

Mas, quando o uso deixa de ser equilibrado, o que era diversão pode se transformar em dependência comportamental.

🚨 Quando o prazer vira necessidade

Do ponto de vista neurológico, o uso contínuo e sem limites de telas estimula a liberação de dopamina, o neurotransmissor do prazer. Isso faz com que a criança precise de cada vez mais tempo de tela para sentir a mesma satisfação.

Com o tempo, o interesse por brincadeiras offline — como desenhar, brincar ao ar livre ou conversar com amigos — diminui.

Quando afastadas das telas, muitas crianças apresentam ansiedade, irritabilidade e até sintomas semelhantes à abstinência.

O alerta é claro: não é o jogo ou o desenho em si o problema, mas a forma e a frequência com que são usados.

🎮 Nem todo jogo é “ruim” — mas alguns são perigosos

Jogos podem estimular o raciocínio lógico, a cooperação e até o aprendizado. Entretanto, certas mecânicas e ambientes digitais aumentam o risco de impulsividade, agressividade e isolamento social, especialmente nas fases iniciais do desenvolvimento cerebral.

Jogo / Plataforma / Prática e seus Riscos e Problemas Potenciais

Roblox: Conteúdos sem moderação, microtransações constantes, risco de interação com desconhecidos.

Fortnite: Competição intensa, bullying em chats, linguagem imprópria e coleta de dados de menores.

Free-to-play / Loot boxes: Pressão para gastar dinheiro, estímulo à recompensa imediata e ansiedade.

Jogos com chat aberto: Exposição a cyberbullying, grooming e pedidos de informações pessoais.

Jogos com alta competição: Irritabilidade, frustração e dificuldade de regulação emocional.

Gacha Life: Sexualização de personagens, conteúdo adulto disfarçado e risco de aliciamento.

Forsaken: Violência explícita e estímulo à agressividade precoce.

💡 Orientação é mais eficaz que proibição.

Supervisão, diálogo e limites ajudam a transformar o digital em um espaço de aprendizado — e não de risco.

📺 Desenhos e conteúdos problemáticos

Nem sempre o perigo está em jogos violentos. Muitos desenhos e vídeos infantis aparentemente inofensivos escondem elementos que desorganizam neurologicamente as crianças — seja por excesso de estímulo visual, sons repetitivos ou mensagens inadequadas.

Conteúdo / Por que é problemático/ Riscos observados

Happy Tree Friends: Violência e mutilação. Medo, angústia e confusão.

Ren & Stimpy: Humor grotesco e violência exagerada. Ansiedade e comportamentos agressivos.

Invader ZIM: Humor negro e personagens maléficos. Medo e agressividade.

Powerpuff Girls / “Elsagate” no YouTube: Batalhas intensas e normalização da agressão.Redução da empatia e agressividade.

Guerreiras do K-pop: Falsos vídeos infantis com conteúdo adulto. Exposição precoce a temas sexuais e perturbadores.

Cocomelon / Baby Shark / Patrulha Canina / Peppa Pig: Repetição de sons e imagens, saturação de cores, transições rápidas. Sobrecarga dopaminérgica, irritabilidade e dificuldade de atenção.

Esses conteúdos, com mudanças de cena a cada 1–3 segundos e sons intensos, geram picos de dopamina semelhantes aos de jogos viciantes.

O resultado? Crianças mais agitadas, com déficit de atenção, intolerância à frustração e menor capacidade de concentração em atividades sem estímulo digital.

⚠️ Efeitos observados com o uso excessivo de telas

Estudos e observações clínicas mostram que a exposição prolongada a estímulos digitais intensos pode causar:

  • Aumento de comportamentos agressivos

  • Ansiedade e medo noturno

  • Confusão entre realidade e ficção

  • Déficit de empatia e valores sociais distorcidos

  • Dificuldade de foco e de sono

  • Redução de interesse por interações sociais reais

O cérebro infantil, ainda em formação, é altamente plástico — ou seja, tudo o que se repete, se fortalece.

Por isso, quanto mais o circuito de recompensa digital é ativado, mais difícil se torna substituí-lo por experiências simples do cotidiano.

Recomendações para pais e educadores

Não é preciso “banir as telas”, mas é essencial ensinar o equilíbrio.

Veja práticas simples que ajudam a reduzir riscos e fortalecer o vínculo familiar:

  • Supervisão ativa: participe, assista e jogue junto sempre que possível.

  • Respeite a faixa etária: siga as classificações indicativas.

  • Converse sobre o conteúdo: ajude a criança a interpretar o que vê.

  • Estabeleça limites de tempo: defina horários e incentive pausas.

  • Promova atividades offline: esportes, leitura, música e arte.

  • Use controles parentais: plataformas como YouTube Kids e Netflix possuem filtros de segurança.

  • Cuide do exemplo: crianças aprendem observando o comportamento dos adultos.

📌 Para mais orientações, acesse: SaferNet Brasil

Orientacao para configuração e utilização de alguns controles parentais

Google Family Link (Android e iOS)

📱Passo a passo:

1. Baixe o app Family Link (Android/iOS).

2. Crie uma conta Google para seu filho (se ainda não tiver).

3. Conecte a conta dele ao seu app.

4. Dentro do Family Link, configure:

* Limite de tempo de uso diário.

* Aprovação para novos apps.

* Localização do aparelho.

Tempo de Uso (iPhone/iPad)

📱 Passo a passo:

1. Vá em Ajustes > Tempo de Uso.

2. Toque em Ativar Tempo de Uso e configure como “Dispositivo da Criança”.

3. Defina:

Limite diário de apps (redes sociais, jogos etc).

Conteúdo e Privacidade → restrições de idade para apps, músicas, filmes.

Contatos permitidos (quem pode ligar ou mandar mensagem).

Privacidade nas redes sociais

📱 Exemplos (Instagram):

1. Vá em Configurações > Privacidade.

2. Ative Conta privada.

3. Em Mensagens, escolha “Apenas pessoas que você segue” podem enviar mensagens.

4. Em Comentários, bloqueie estranhos e filtre palavras ofensivas.

(Dica: cada rede tem menus semelhantes de privacidade — mostre aos filhos como configurar juntos.)

Filtros de conteúdo

Google e YouTube:

📱SafeSearch:

1. Vá em google.com/preferencias

2. Ative SafeSearch para filtrar resultados explícitos.

📱YouTube Kids:

1. Baixe o app YouTube Kids.

2. Configure o perfil da criança com idade.

3. Escolha se o filho pode “pesquisar” ou só assistir o que os pais aprovarem.

Bloqueio de compras e downloads

📱 iPhone:

1. Vá em Ajustes > Tempo de Uso > Conteúdo e Privacidade > Compras na iTunes e App Store.

2. Selecione “Exigir Senha Sempre”.

📱 Android (Google Play):

3. Abra a Play Store > Configurações > Autenticação.

4. Marque Exigir autenticação para todas as compras.

🎬 Conteúdos que favorecem o desenvolvimento

Nem tudo nas telas é negativo. Há produções que ajudam no crescimento emocional e cognitivo, promovendo empatia, imaginação e reflexão.

Filmes e séries recomendados:

  1. Divertidamente — ensina sobre emoções e autorregulação.

  2. Up – Altas Aventuras — fala de vínculos e resiliência.

  3. O Robô Selvagem — aborda empatia e adaptação.

  4. Spirit Rangers — respeita o ritmo natural do desenvolvimento.

  5. A Vida de Inseto — trabalha planejamento e cooperação.

  6. Orion e o Escuro — ajuda a lidar com os medos.

  7. Bluey — ensina resolução de conflitos e convivência familiar.

  8. Zootopia — combate preconceitos.

  9. Daniel Tigre — desenvolve inteligência emocional.

  10. Show da Luna e Amiguazão — estimulam curiosidade e empatia.

  11. O Extraordinário — reforça inclusão e respeito.

  12. Pequenos Ilustres e Mytikah — despertam interesse pela cultura e história.

  13. Curtas Parcialmente Nublado e O Presente — trazem lições de persistência e coragem.

Esses conteúdos possuem ritmo mais lento, diálogos construtivos e valores positivos, favorecendo o equilíbrio entre o entretenimento e o desenvolvimento emocional.

O mundo digital faz parte da vida — mas não é toda a vida

As telas podem ser aliadas ou armadilhas, dependendo de como são usadas.

O desafio dos pais e educadores está em ensinar o equilíbrio e cultivar a presença real em um mundo cada vez mais virtual.

O objetivo não é proibir, mas orientar e participar — ajudando as crianças a compreenderem que o digital é apenas uma parte da vida, e que o brincar, o contato humano e as experiências reais são insubstituíveis.

Educar com presença é o verdadeiro antídoto contra a prisão digital.

redes sociaissaude mentalperigos redes sociaisperigos do mundo digitalconteudo perigoso para criancascontrole parental
blog author image

Tais Moroz

Psicóloga, Fundadora da Cogni Academy Psicóloga Clínica, Neuropsicóloga, Psicopedagoga, Neurofeedback, Brainspotting com mais de 25 anos de experiência na área clínica e de intervenções.

Back to Blog