
Como Fazer Seu Filho Cooperar Sem Gritar ou Repetir Mil Vezes
Imagine esta cena…
Seus amigos de família estão a caminho para jantar. Falta apenas uma hora.
A sala de estar acabou de ser limpa, cheirosa e organizada. Mas, de repente, você se depara com um verdadeiro campo de batalha de brinquedos espalhados por todo canto.
Seu filho, no meio do caos, está feliz brincando. Você respira fundo e, com calma, pede:
— Filho, por favor, guarde seus brinquedos.
Ele responde:
— Tá bom, mãe, só um minuto.
Você se afasta por alguns minutos, esperando encontrar o ambiente em ordem. Mas, quando volta, nada mudou. Ele ainda está sentado no chão, totalmente envolvido com suas aventuras imaginárias.
Você pede de novo, desta vez com mais firmeza, lembrando que os convidados chegam em poucos minutos. Ele responde novamente:
— Tá bom, já vou!
E, quando você retorna… nada.
A paciência começa a se esgotar, o relógio corre e os convidados estão prestes a chegar. O que fazer?
Neste momento, você só tem algumas opções:
Levantar a voz, repetir a ordem e acrescentar uma ameaça para finalmente ser obedecida.
Fazer você mesma a arrumação, cheia de frustração e ressentimento.
Ignorar a bagunça, tentando não se importar.
Encontrar uma maneira de fazer com que seu filho realmente colabore – sem gritos e sem brigas.
É claro que a última opção parece a ideal. Mas, afinal, como chegar a esse resultado?
Por que as crianças não obedecem de imediato?
Antes de pensar em estratégias, é importante entender o que acontece no cérebro da criança.
Quando pedimos algo como “guarde seus brinquedos”, estamos exigindo uma série de habilidades que pertencem ao grupo chamado funções executivas:
Inibição: parar a brincadeira, mesmo que seja divertida.
Atenção: ouvir e reter a instrução recebida.
Planejamento e organização: saber por onde começar a guardar.
Memória de trabalho: lembrar a sequência de ações (pegar os blocos, guardar os carrinhos, recolher as bonecas).
Essas funções ainda estão em desenvolvimento na infância – especialmente em crianças menores de 12 anos. Ou seja, não é sempre desobediência ou “teimosia”, mas sim imaturidade cognitiva.
Além disso, existe um fator emocional: a criança está no fluxo da brincadeira, em um estado de concentração tão intenso que mudar de atividade parece um desafio enorme. Para ela, continuar brincando é muito mais recompensador do que arrumar.
O erro mais comum dos pais
Diante da falta de resposta imediata, muitos pais caem em uma das três armadilhas:
Repetir, repetir e repetir – até perder a paciência.
Transformar o pedido em ameaça – “Se não arrumar agora, vai ficar sem TV.”
Fazer a tarefa no lugar da criança – para ganhar tempo.
Essas estratégias até funcionam no curto prazo, mas não ensinam responsabilidade nem promovem autonomia.
O desafio é encontrar um caminho em que a criança aprenda a colaborar de verdade.
Estratégias práticas para estimular a cooperação
Agora vamos às ferramentas que realmente podem transformar a cena descrita no início.
1. Use instruções claras e específicas
Ao invés de dizer “arrume essa bagunça”, diga:
“Guarde os carrinhos na caixa azul.”
“Coloque as bonecas na prateleira.”
Quanto mais concreto e objetivo, mais fácil para a criança começar.
2. Dê um tempo de transição
Mudar de uma atividade prazerosa para outra considerada “chata” exige preparação.
Você pode dizer:
— “Filho, em cinco minutos vamos guardar os brinquedos porque os amigos estão chegando.”
Isso ajuda o cérebro da criança a se ajustar à mudança.
3. Participe do início
Muitas vezes, o mais difícil é começar. Se você pega um brinquedo, entrega para ele e diz:
— “Você guarda esse, eu guardo aquele.”
A criança entra no ritmo e continua sozinha.
4. Transforme em jogo
Crianças respondem muito melhor quando há elementos lúdicos.
Exemplos:
“Vamos ver quem guarda mais rápido: você os carrinhos ou eu as bonecas?”
“Será que conseguimos arrumar tudo antes que o timer chegue em 2 minutos?”
5. Explique o porquê
Dar sentido ao pedido ajuda a criança a se engajar.
— “Precisamos organizar a sala porque nossos amigos vão chegar. Assim teremos espaço para brincar depois.”
6. Reforce positivamente
Após a tarefa, reconheça o esforço:
— “Você foi muito rápido! Agora nossa sala está linda. Obrigada por ajudar.”
Esse reforço fortalece o hábito.
O impacto a longo prazo
Ensinar uma criança a guardar os brinquedos não é apenas sobre manter a casa arrumada. É sobre ensinar autorregulação, responsabilidade e colaboração.
Quando os pais escolhem a alternativa de gritar ou fazer por conta própria, perdem a oportunidade de fortalecer essas habilidades. Mas, quando optam por orientar com paciência e estratégia, constroem um aprendizado que acompanha o filho pela vida inteira.
As funções executivas – como planejamento, organização e controle inibitório – são fundamentais para o sucesso acadêmico, profissional e pessoal. Crianças que aprendem desde cedo a ouvir, mudar de tarefa e colaborar têm mais facilidade em:
Cumprir prazos escolares;
Gerenciar responsabilidades;
Trabalhar em equipe;
Desenvolver resiliência emocional.
E se nada funcionar?
É claro que nem sempre o resultado será perfeito. Crianças são imprevisíveis e, às vezes, mesmo com todas as técnicas, a cooperação não virá de imediato.
Nesses casos, respire fundo, mantenha a calma e pense no longo prazo. Ensinar cooperação é um processo, não um episódio isolado. O importante é que, aos poucos, a criança compreenda que arrumar faz parte da rotina, não de uma disputa de poder.
Na cena inicial, você tinha quatro opções. A mais eficaz foi encontrar um jeito de engajar seu filho sem brigas.
Isso não significa ser permissivo, mas sim estratégico. Significa usar empatia e ciência do desenvolvimento infantil para transformar um momento de tensão em aprendizado.
Na próxima vez que você se deparar com brinquedos espalhados e visitas chegando, lembre-se:
Seja claro e específico;
Dê tempo para a transição;
Participe do começo;
Transforme em jogo;
Explique o motivo;
E reconheça o esforço.
Assim, além de conquistar uma sala organizada, você estará construindo uma criança mais colaborativa, autônoma e emocionalmente preparada para os desafios da vida.
👉 E você, já passou por uma situação assim em casa?
Como fez para que seu filho colaborasse sem precisar gritar ou repetir mil vezes?
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